Mais de 500 anos depois, o sol continua forte, os nativos sempre hospitaleiros e a paisagem continua a maravilhar quem se aventura pelas trilhas que cruzam esse pedaço do litoral da Bahia. A Rota do Descobrimento, que vai de Prado à Santa Cruz de Cabrália, pode ser considerada um paraíso também , tal como Pedro Alvares Cabral e sua esquadra a viu pela primeira vez, em 22 de abril de 1500. Apesar do aparecimento das cidades junto à orla e do desmatamento provocado pelos portugueses, à área ainda possui praias intocadas, rios de águas cristalinas e fauna e flora diversificadas. Um hectare de Mata Atlântica nesses domínios tem 450 tipos de espécies vegetais. Os animais também são muitos. Só de aves são cerca de 400 espécies, um número superior, por exemplo, ao de todas as aves encontradas na Europa. Não espanta, portanto, que os primeiros navegantes acreditassem Ter encontrado o paraíso terrestre. Recentemente a Unesco escolheu a Costa do Descobrimento como Sítio do Patrimônio Natural. Isto quer dizer que a região é considerada um lugar de preservação de relevante importância para humanidade e todo o planeta. Além do Parque Nacional de Monte Pascoal , dois novos parques foram criados em abril do ano passado: o Parque Nacional doPau-Brasil, em Porto Seguro, e o Parque Nacional do Descobrimento, na região de Prado.
O Sampa Bikers é pioneiro nas cicloviagens pela região, onde organiza desde 1999, uma das especialidades do clube e a preferida de Paulo de Tarso, presidente do clube e um dos maiores especialistas de cicloviagens do Brasil. Apesar de ser praticamente plano o trajeto é recomendado somente para os mais experientes. O vento contra, o calor, a areia fofa são dificuldades que podem complicar para quem não está bem preparado fisico e tecnico. Durante o trajeto existe vários rios de dificil travessia, onde é necessário conhecimento local. Além disso ao longo do caminho é necessário atravessar propriedades particulares, onde é necessário uma prévia autorização com atencedência e conhecimento das marés. Resumindo é complicado fazer sozinho. Por isso recomendamos vir em algum cicloviagem organizada por nós. Mas mesmo assim se quiser encarar sozinho aí vai a descrição de nosso roteiro.
Primeiro dia – Prado à Cumuruxatiba – 33 km
“Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que corta o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte cinco léguas por costa. Tem ao longo do mar , nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e terra por cima toda chã e muito cheia de arvoredos. De ponta a ponta , é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa”
Pero Vaz de Caminha
A pedalada pelas praias do descobrimento começa no município de Prado, no extremo sul da Costa do Descobrimento, onde as caravelas portuguesas se aproximaram pela primeira vez das novas terras . A Vila de Cumuruxatiba, 30 quilômetros ao Norte de Prado é uma pedalada tão puxada quanto bela. A maior parte do caminho é todo feito pela praia. Nos 8 primeiros quilômetros seguimos por uma bela estrada que segue por cima das falésias. A todo instante alternando subidas e descidas e uma paisagem de um mar azul deslumbrante. Na Praia da Paixão saímos da estrada e seguimos pela praia. Na Praia Viçosa, um capricho extra da natureza: um banco de areia branca encimando a falésia. Já na praia do Tororão uma pequena cascata de água doce cai diretamente na praia convidando os ciclistas a um banho refrescante. Durante todo o trajeto um brisa nos acompanha deixando o caminho mais fresco. Durante o caminho alguns bares pelo caminho onde encontramos desde uma tradicional água de coco à um gelado refrigerante.
A Vila de Cumuruxatiba é bastante agradável, uma região paradisíaca de praias semi-desertas, enfeitadas por falésias coloridas , bem pequenina e bastante tranqüila.
Segundo dia – Cumuruxatiba à Corumbau – 25 km
“grande monte, mui alto e redondo”
Pero Vaz de Caminha
Parte do trecho entre Cumuruxatiba à Corumbau estaremos pedalando pela praia , onde durante toda viagem precisamos estar atento com o movimento das marés, o ideal é antes de começar a pedalar verificar o horário da maré baixa com algum pescador local. Durante a maré baixa é possível pedalar tranqüilamente pela areia, que fica mais dura. O ideal é nos trechos de praia murchar o pneu.
Este é o mais longo trecho realizado em um único dia, 25 km até a Vila de Corumbau. À direita avista-se o imenso mar azul. À esquerda, uma paisagem de coqueiros, mangues e falésias.
As falésias são um espetáculo grandioso. Em tons avermelhados, formam paredões de até 20 metros de altura e que refletem o brilho do sol em cores vivas . Cinco quilômetros de pedaladas pela praia chegamos de frente a uma falésia, desta vez elevando-se como um morrão bem acima do nível do mar. A única maneira é escalar pelo caminho demarcado facilmente identificado. Lá em cima é o momento de aproveitar a bela vista do horizonte marinho e observar a vegetação. Existem dezenas de flores coloridas, entre as quais um tipo de orquídea com minísculas flores rosas. Seguimos pela trilha até uma fazenda onde atravessamos e chegamos lá embaixo na Praia do Moreira, com uma pequena e aconchegante enseada em forma de meia-lua, mas de praia bem pedregosa. No alto do morro, tendo o mar à direita, é possível observar o Monte Pascoal `a esquerda. É a única oportunidade de ver este que foi o primeiro pedaço do Brasil a ser avistado pela esquadra de Cabral, num ensolarado Domingo de Páscoa. Diz a História que Cabral avistou o Monte Pascoal quando as naus estavam na altura das praias de Prado – mais exatamente, próximas à foz do Rio Caí, um dos pontos de maior importância histórica. Foi nesse lugar que o português Nicolau Coelho desembarcou no dia 23 de abril de 1500 e fez o primeiro contato com os índios pataxós. As naus ficaram em alto-mar , enquanto Coelho, a mando de Cabral, seguiu em um pequeno barco até a praia.
Se a maré estiver alta, é necessário pegar uma carona num barco dos pescadores vizinhos para atravessar o Rio Caí. Logo após o Rio, uma cruz simboliza o descobrimento do Brasil. Seguindo em frente saímos novamente da praia, uns cinco quilômetros depois, quando a praia ficar novamente obstruída. Observe um pouco antes das pedras um caminho por trilha por cima das falésias, um dos trechos mais bonitos do passeio.
De volta à praias seguimos pedalando tranqüilamente até a Ponta de Corumbau.
Há duas versões para o significado de Corumbau, em tupi. Para alguns, a palavra quer dizer “longe de tudo”. Para outros, “fim do mundo”. De fato, ao se avistar essa ponta de areia (que chega a Ter mais de 1 quilômetro, na maré baixa) tem se a ilusão de que não existe mais nada no planeta além dela. Só o céu. O vilarejo é o menor da Rota do Descobrimento, um dos mais simples e sem luz elétrica, mas de beleza deslubrante.
Terceiro dia – Corumbau à Caraíva – 13 km
“A feição deles é serem pardos, de maneira avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos”
Pero Vaz de Caminha
Atravessamos de canoa o Rio Corumbau , onde a beira do rio , criança indígenas oferecem aos viajantes colares de conchas, artesanato e o transporte para vencer o rio. Devido à areia fofa e bem inclinada este trecho não é possível seguir pela praia. Mas existe um caminho praticamente paralelo a praia, só que para seguir por ele é necessário se informar, pois as vezes é necessário a autorização dos indios da Aldeia Pataxós. Neste trecho fica a faixa da praia do Parque Nacional do Monte Pascoal, mas também a área indígena Barra Velha. É possível seguir pedalando até Caraíva.
Nas cicloviagens promovidas pelo Sampa Bikers Pedalamos até ao Rio Caraíva, de onde seguimos de barco para nosso destino. As bicicletas seguem em uma carroça.
Nascida de um agrupamento de índios e escravos há cerca de 100 anos, o rústico vilarejo de Caraíva ainda conserva o ar simples e ribeirinho do passado, de poucas ruas, todas cobertas de areia e também sem luz elétrica. Outrora, Caraíva foi um dos principais centros de extração e escoamento de madeira, hoje bastante raro na região. Seus habitantes , vivem basicamente da pesca, embora já existam ali pousadas e bares para os aventureiros, com direito até ao forró. Em Caraíva é obrigatório comer um pastel no Bar do Pará.
Quarto dia – Caraíva à Coruípe – 10 km
“Águas são muitas: infinindas. E em tal maneira é graciosa que querendo- a aproveitar, dar-se- á nela tudo, por bem das águas que tem”
Pero Vaz de Caminha
Para iniciar a pedalada até Coruípe, atravessamos de canoa o Rio Caraíva, até a praia, do outro lado. e seguimos em frente, pedalando pela praia, cinco quilômetros depois a praia termina novamente em uma falésia, onde desviamos à esquerda por cima dela. Antes vale a pena dar um refrescante mergulho na praia. Após o refrescante mergulhe o caminho segue por uma trilha acima da falésia. Em alguns pontos ao longo da trilha será possível observamos o mar e a linda paisagem por mirantes natural que se forma lá de cima. Em seguida chegamos a Coruípe, na praia do espelho, um dos pontos mais bonitos e caros do passeio.
Quinto dia – Coruípe à Trancoso – 20 km
Sempre pela praia, seguindo em direção à Trancoso. Em alguns trechos a areia é fofa, difícil de pedalar. No meio do caminho atravessamos o Rio do Frade. Quase sempre tem um pescador por lá para atravessar . A proximidade com Trancoso se revela pelo intenso movimento, cheia de pousadas e bares a poucos metros do mar. A vila ainda guarda o charme de quando foi descoberta pelos hippies na década de 70. A aldeia Jesuíta foi fundada no século XVI. Na famosa “Praça do Quadrado” estão conservadas as primeiras construções do povoado, como a igreja de São João erguida pelos jesuítas em 1656e o casario construído pelos missionários portugueses, que permanece intacto mas agora com outras serventias. Abriga agora bares restaurantes pousadas, tudo isso rodeado com árvores de cacau, tamarindo, jambo e jaca.
Sexto dia – Trancoso – Arraial d’Ajuda – 13 km
Seguindo em direção a Arraial, atravessamos o Rio Trancoso, que antes de alcançar o mar dá várias voltas formando ilhas e irrigando o mangue de árvores robustas. É talvez o trecho mais fácil de todo o percurso. Sempre pedalando pela praia, este trecho já não é tão deserto como a dos dias anteriores. A todo instante encotramos alguém ou algum bar , aumentando conforme a proximidade de Arraial. Uma das atrações mais encantadoras deste trecho era a Lagoa Azul, que secou misteriosamente.
Arraial d’Ajuda, é um povoado fundado pelos jesuítas em 1549, naquela época uma espécie de ponto de partida para a catequisação dos índios da região, hoje conhecida pela agitada vida noturna ao som de forró, lambada e Axé.
Quem leva – O Sampa Bikers realiza anualmente essa ciclo viagem na primeira ou segunda semana de dezembro, depende da lua. Confira o calendário localizado no topo desse site.
Nosso trajeto inclui carro de apoio, acompanhamento de guia (Paulo de Tarso) e hospedagem em Hotéis e pousadas de charme e requinte.
Mais informações envie um email para [email protected] ou ligue 11 5517 7733