Será que a frota de mais de 5 milhões de carros que tentam circular pela cidade de São Paulo é fruto de um transporte de massa, público, de má qualidade? Normalmente o senso comum tende a responder afirmativamente a essa questão, simplificando-a. Vamos então considerar outros elementos que podem nos ajudar a entender porque a diminuição do número de automóveis nas ruas de São Paulo exige muito mais que a criação de infra-estrutura ao transporte coletivo ou às bicicletas.
Carro é coisa de bacana!
A dimensão territorial do município de São Paulo, que no seu eixo Norte-Sul perfaz algo em torno dos 100 km e no eixo Leste-Oeste aproximadamente 80 km, constitui um grande problema (leia-se: necessidade de grande investimento financeiro) para a implantação de um bom sistema de transporte de massa.
Entretanto, a grande maioria dos automóveis não está em logradouros que se localizam nas extremidades do município, pejorativamente denominadas periferias, e sim nas regiões centrais da cidade. É no “centro-expandido”, área circular que engloba os bairros de Pinheiros, Lapa, Campo Belo, Vila Mariana, Ipiranga, Vila Guilherme, Santana, Belém, Mooca, Tatuapé, dentre outros, que circula o grosso da frota de automóveis, levando seus proprietários de suas residências ao trabalho, sobretudo.
Curiosamente, é nessa região que se encontra a melhor infra-estrutura de transporte coletivo, como as estações de metrô, faixas exclusivas para ônibus, ônibus executivos e microônibus com ar-condicionado e mais rápidos. Ora, para muitos dos motoristas de automóveis seria perfeitamente possível deixar seus carros na garagem e ir ao trabalho de ônibus ou metrô? E por que não o fazem? As respostas são diversas, mas alguns estudos apontaram que dentre as razões está o fato de, no Brasil, transporte público estar associado às classes sociais mais baixas e o automóvel ser um dos maiores indicadores de status.
Transporte público é coisa de pobre!
Há alguns meses, a construção da linha amarela do metrô, ligando o centro à Vila Sônia, causou certa polêmica entre os lojistas e consumidores que freqüentam a rua Oscar Freire. A construção de uma estação do metrô nesta rua (ou nas suas proximidades) não teria sentido, na opinião de alguns, pois as pessoas que costumam fazer compras nas caríssimas lojas desta rua apenas utilizam o automóvel como meio de transporte.
Outro indicador de que quem mora próximo ao metro não o utiliza com regularidade é o número de vagas na garagem dos novos prédios que são construídos nas imediações das estações. São apartamentos com duas, três e até mesmo quatro garagens (repare nos montes de folhetos que recebe nos semáforos)! E bem se sabe que as famílias que têm poder aquisitivo para adquirir tais imóveis são, em média, constituída de quatro, quando muito, cinco pessoas. Então, pra quê tanto carro se o metrô está ao lado?
E as bicicletas? No próximo artigo trataremos especificamente do uso da “magrela” como meio de transporte, que também está associada aos pobres ou aos excêntricos. Até lá!
Eduardo Campos – Ciclista, Bacharel e licenciado em Geografia pela USP, mestre em Educação pela FEUSP. Foi professor de Geografia no ensino fundamental e médio da rede pública e particular. Autor de publicações de material didático de geografia e orientações sobre práticas de ensino na área. Atualmente trabalha com formação de professores, é assessor da Secretaria Municipal de ensino de São Paulo e coordenador pedagógico e educacional de escola particular. É autor e formador de professores associado à Editora Horizonte desde 2009.