Rocky Mountains – Canadá – 1ª Expedição Brasileira de MTB
Em 1997 o Sampa Bikers organizou durante sete dias para quatorze bikers brasileiros uma ciclo viagem para as montanhas rochosas do Canadá, ou Rocky Mountains como são conhecidas. Que se tem notícia, foi a primeira ciclo viagem organizada para brasileiros fora do Brasil.
Éramos sete homens e sete mulheres, todos muito empolgados com a viagem. Tanto no aeroporto, quanto nos locais que passamos com nossas bikes, chamávamos bastante a atenção das pessoas, devido ao belo uniforme e pelas enormes malas que embalavam nossas bikes.
Saímos de São Paulo em vôo direto para Toronto e de lá fizemos uma conexão para Calgary, onde seguimos de carro para a pequena Hamilton, a cidade mais próxima de Jasper, pois não havíamos encontrado hospedagem lá. Na estrada em direção a Hamilton a todo instante víamos ciclo turistas seguindo viagem para a mesma direção, as geladas Montanhas Rochosas do Canadá.
As tais montanhas são apenas uma parte do grande maciço das Rocky Mountains, que começam no México e vão até o Alasca, sempre beirando a Costa Oeste do continente norte-americano. Porém o trecho canadense é disparado, o mais bonito e acessível. Tão belo que há muito tempo todo ele passou a ser protegido por lei, através da criação de dois grandes parques nacionais: os de Jasper e de Banff. Este o terceiro mais velho do mundo, criado ainda no século passado, em 1885, apenas onze anos depois do pioneiro Yellowstone, nos Estados Unidos. Todas as trilhas que percorremos estão cercadas pelas montanhas de quase quatro mil metros de altura que, por isso mesmo, dificilmente ficam inteiras a mostra. Mesmo no verão, que vai do final de Junho até ao início de Setembro, seus cumes permanecem coberto por uma espessa camada de neve e com temperaturas surpreendentes e agradáveis.
Esta neve, ao se derreter lentamente, é responsável pela segunda maior atração das Rochosas canadenses depois, é claro, das próprias montanhas: os lagos. E são muitos (só no limite de Jasper são 700).
São todos muito coloridos. Isso acontece porque a água que escorre montanha abaixo arrasta minúsculas partículas de rocha, que, uma vez concentradas no lago, limitam o reflexo da luz a determinadas matizes, criando assim o fenômeno das águas coloridas. Cada lago tem uma coloração própria, variando em tons de azul, amarelo, e principalmente, verde.
O fenômeno acontece com maior intensidade em Banff, que entre outras atrações e centenas de trilhas ligando aos lago, se orgulha de possuir dois dos mais bonitos lagos da região, muito provavelmente de todo o país: o verde-esmeralda Peyto Lake e o azul turquesa de Lake Louise, descoberto cem anos atrás e por um funcionário de uma ferrovia que, seguindo os estrondos de um desabamento de gelo dentro d’água, deu de cara com um lago que é a própria síntese da beleza da região: águas azuis margeadas por pinheiros, num vale profundo entre montanhas e com uma enorme geleira no fundo
Preparativos
Em Hamilton, nossa primeira estadia era possível avistar bem de longe as Rocky Mountains, aumentando nossa ansiedade.
No dia seguinte, seguimos de carro para a cidade de Jasper onde começaríamos nossa pedalada. A minúscula Jasper fica dentro do Parque e tem apenas quatro mil habitantes que vivem exclusivamente do turismo, recebendo por temporada dois milhões de forasteiros, quase o mesmo que o Brasil inteiro em um ano.
Não pense que com esta enorme quantidade de gente as trilhas vão estar abarrotadas. Pelo contrário, são tantas opções de caminhos que só de vez em quando é que encontrávamos um grupo de BIKERS ou alguém fazendo trekking. Só nos pontos com infra estrutura para turista de maquina fotográfica e filmadora que é lotado de gente. E como grande parte do ano é bastante frio no Canadá; quando chega o Verão todos querem aproveitar ao máximo, principalmente porque só anoitece às 23 horas.
Em uma época onde não havia Google para pesquisas, a primeira coisa que fizemos na cidade foi de procurar uma loja de bikes e obter mais informações sobre os caminhos que havíamos pesquisado pela Internet. Descobrimos que é lá que é um dos principais lugares no mundo para a prática do Mountain Bike ou para uma viagem de ciclotrurismo, entre as cidades de Jasper e Banf, pelos 288 km na estrada dos sonhos, a Icefields Parkway, uma das estradas mais bonitas do mundo.
O lugar é super organizado, é só você ir ao centro de informações turísticas e perguntar sobre as de trilhas de Mountain Bike que receberá gratuitamente um mapa r detalhado com informações sobre as trilhas, com o grau de dificuldade, quilometragem, e mais um monte de dicas úteis. Além disso, as trilhas são sinalizadas com números que aparecem no mapa, para que qualquer pessoa possa fazer com segurança, sem se perder. E o interessante é que existem trilhas para todos os níveis e gostos. Quem gosta de single track, o lugar é um paraíso.
Antes de começar a pedalar é importante ter um acessório curioso que se encontra à venda em qualquer loja na cidade: um sininho, que serve para espantar urso. Aí é só pendurar na bike e começar a pedalar. Segundo os últimos levantamentos, as Rochosas canadenses abrigam duas centenas de ursos, algumas dezenas de felinos, lobos e milhares de alces, veados e cabritos da montanha sem falar em grandes colônias de castores e uma infinidade de esquilos. Com exceção destes últimos, todos os grandes mamíferos da região têm suas populações controladas. Todos facilmente vistos, principalmente no final da tarde.
1º dia de pedalada – Maligne Lake Road – 64 km – asfalto e single track
Uma das mais belas rotas do parque de Jasper. A saída foi do Lago Medicine Lake, um lago lindo de um azul turquesa estonteante. De lá seguimos pelo asfalto até a cidade de Jasper. Apesar da quilometragem a pedalada não é tão forte, pois grande parte do percurso é descida. Nossa expectativa era de ver um urso ou outros animais pelo parque. A estrada corre entre as montanhas e, a cada curva, o grupo parava para fotografar as paisagens que nos encantavam.
Após 18 km, saímos do asfalto pegamos uma trilha, sempre beirando um rio de um verde muito lindo e transparente. O final da trilha foi em um lago rodeado por montanhas com pico coberto pela neva, parecia até foto de folhinha de calendário, e, em minha opinião o local mais bonito de toda viagem.
De volta ao asfalto rumo à cidade, encontramos vários carros parados na beira da estrada. Pensamos que havia acontecido um acidente, mais era um urso preto que tranquilamente, comia na beira da estrada. De vez em quando ele olhava para as pessoas e continuava a comer apenas duas pessoas de nosso grupo conseguiram ver, eu, Paulo de Tarso, e o outro o Reinaldo, nosso fotógrafo, que de tanto medo, errou o foco. Seguimos na frente e ao nos ajuntarmos novamente ao grupo ninguém acreditou que tínhamos visto um urso. Nossa última parada antes de chegar à cidade foi no Maligne Canyon onde um rio mergulha numa fenda nas rochas.
2º dia – TRILHA DE SATURDAY NIGTH LAKE – 32 km – SINGLE TRACK
Seguindo a conselhos dos biker locais, resolvemos fazer a trilha de Saturday Nigth Lake. O início dela é dentro da cidade, onde ela sobe mata adentro. Placas avisam do perigo de se encontrar um urso. São 32 km de single-track bastante técnico e com muitas subidas. A sensação deste percurso são os lagos Marjorie Lake, Caledônia Lake, Minnow Lake, High Lakes e Saturday Nigth Lake. Depois de 15 km de muito empurra bike e incessantes ataques dos mosquitos chegamos à trilha de acesso ao Saturday Nigth Lake. Mas a subida era tão forte, que apenas quatro bikers do grupo seguiram até o lago, enquanto o resto descansava. Depois o grupo se dividiu os quatro que foram ao lago fizeram todo o circuito, que são 38 km pesados e com muita lama, enquanto o restante do grupo voltou pelo mesmo caminho.
3º dia – TRILHA DO VALEY OF THE FIVE LAKES – 38 km – SINGLE TRACK e ASFALTO
No terceiro dia o grupo já estava bastante cansado. Além de pedalar quase 7 horas por dia, ainda tínhamos fôlego para passear pela cidade e, principalmente trocar nossas camisetas e bonés com as lojas de bikes locais
O dia estava chuvoso e frio, e não passava pela nossa cabeça de ficar um dia sem pedalar, e perder a trilha que, na opinião dos locais era uma imperdível. O início da trilha foi no Old Fort Point e foram trinta e oito quilômetros de pedaladas, sendo que vinte por single track. Só que teve trechos de muito empurra bike, pois foram em alguns locais onde o mapa não indicava trilha de bike e devido ao erro o negócio era empurrar. O visual da trilha mesmo com o tempo fechado era de cinema. A trilha segue por colinas e florestas de aspens, cruzando diversos riachos no caminho. Foram cinco lagos e um mais bonito que o outro. Depois de muito sofrimento chegamos ao asfalto na cenográfica estrada de Icefields Parkway onde conseguimos pedalar melhor. Durante nossa volta pelo asfalto outra boa surpresa, uma manada de alces na beira da estrada.
Chegando a Jasper pegamos nossos carros e viajamos mais três horas até a cidade de Banff, nossa próxima base pelos próximos quatro dias.
Banff é um pouco maior que Jasper, tem sete mil habitantes e não aceita mais ninguém, além de turistas. A cidade nasceu por causa de algumas fontes de águas termais
4º dia – LAKE LOUISE – MORAINE LAKE – 35 km – single-track e asfalto
Lake Louise é um pequeno vilarejo a 50 km de Banff, lá está localizado um dos lagos mais bonitos com citamos anteriormente. O objetivo do dia era de chegar até o Moraine Lake. Nos quilômetros iniciais pelo asfalto tivemos a adesão de um biker japonês. Quatro quilômetros depois chegávamos ao início do single- track. O início foi animador, era uma trilha pedalável e a maior parte da galera já estava meio bronqueada com as trilhas locais, devido à dificuldade de se pedalar. Bastaram quinhentos metros de trilha para a maior parte do grupo voltar pelo asfalto. Sorte de quem voltou. A trilha valeu pelo visual, mas, para pedalar, foi uma roubada.
Durante o percurso pelo asfalto, encontramos diversos grupos de ciclo turistas de todo o mundo.
- Caminho para Moraine Lake era bastante movimentado, e o respeito dos carros com os ciclistas é uma coisa impressionante, até inacreditável para nós que não somos nenhum pouco respeitado aqui no Brasil. O lago é de beleza deslumbrante mais com muito turista.
5º dia – Bannf a Canmore – 50 km – single track
No dia anterior enquanto jantávamos em uma cantina italiana repondo nossos carboidratos, a garçonete do restaurante percebeu que éramos bikers. Lorena – era esse o nome dela – era uma fanática por mountain bike e já tinha ouvido falar do nosso grupo em Banff. E insistiu para que fôssemos pedalar em Canmore uma pequena cidade de uns dois mil habitantes, e para a maioria dos locais é o melhor point para a prática do mountain bike.
De todas as trilhas, essa foi com certeza a melhor, mais bonita e pedalável. O tempo todo a trilha acompanha um belo rio. Foi trinta quilômetros tranqüilos por trilha entre uma cidade a outra, mais sempre com muito mosquito. O final da trilha é em um centro olímpico, onde aconteceu as Olimpíadas de Inverno de Calgary, em 1988. Lá encontramos um casal de bikers da equipe da Rocky Mountain com bikes incrementadíssimas mais que ficou de olho em minha Alfameq amarela com suspensão Pro Shock – toda nacional – produzida exclusivamente para esta viagem.
6º dia – trilhas em torno da cidade – 40 km
No sexto e último dia de pedalada o programa foi leve. Enquanto metade do grupo participava de um Rafting, o restante saiu para uma pedalada pela trilhas ao redor da cidade. Foram quarenta quilômetros de single track contornando toda cidade e completando o cenário de fundo, as Rocky Mountains.
Em nosso último dia na cidade de Banff aproveitamos também para trocar nossas camisetas com os bikers e lojas locais que fizemos amizade. Nosso grupo ficou bastante conhecido entre os bikers locais devido o grupo estar todo uniformizado com as cores do Brasil e por ser o primeiro grande grupo de mountain bikers do Brasil por lá.
DICAS PARA QUEM PRETENDE PEDALAR POR LÁ:
Se você gosta só de single-tracks o lugar é um paraíso. Mas o ideal e mais legal é você ficar uns três dias na cidade de Jasper percorrendo algumas trilhas e depois seguir de bicicleta pelos 288 quilômetros da Icefields Parkway, que ligam Jasper a Banff. A estrada é um show de beleza. O asfalto é excelente, o movimento de carros nunca chega a ser tão excessivo e a pista embora mão dupla, tem um ótimo acostamento. Durante todo o caminho vimos locais apropriados para camping. E a estrada é quase toda plana, com apenas um trecho de subida longa e forte. A estrada corre inteira dentro dos dois parques. Uma viagem inesquecível que em sete dias é possível fazer com tranqüilidade. Em Banff vale à pena ficar uns dois dias. Mais não se esqueça da cidade de Canmore, pois lá estão as melhores trilhas!
Caso você for só para fazer trilhas existe várias lojas que alugam ótimas mountain bikes.
INFORMAÇÕES ÚTEIS
- Mesmo essa ciclo viagem sendo realizada há muito tempo, muitas dessas dicas ainda podem ser válidas devido ao respeito e preservação que o país tem por suas trilhas, pelo turismo e pela bicicielta.
Onde é: No sudoeste do Canadá, no estado de Alberta, dentro dos limites dos parques nacionais de Jasper e Banf.
como chegar: pegar um vôo pela para Toronto, e de lá fazer um outro conexão para Edmonton. Em Edmonton o melhor e mais barato é alugar um carro e seguir até a cidade de Jasper a 350 km.
Quando ir: os melhores meses são de Julho e Setembro
onde ficar: Tanto em Jasper quanto em Banf o que não falta são hotéis, inclusive os moradores tem por hábito alugar quartos em suas casas no verão.